Tiê, que “nasceu com nome artístico”, foi criada no bairro paulistano de Perdizes e por pouco não cresceu em meio aos índios. Isso caso sua mãe tivesse dado à luz no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Antes de saber da gravidez, o pai optou por largar o consultório de odontologia para viver entre os índios. Mas a mãe decidiu: não teria a filha no meio do mato. Foi assim que ela nasceu longe do pai, e só conheceu o meio-irmão mais novo, “caçador e pescador”, na única visita aos dois, aos 19 anos. Mais tarde, do segundo casamento da mãe, Tiê ganhou outro irmão, Gianni Dias, também músico.
Foi grudada na mãe e na avó, a atriz Vida Alves – protagonista do primeiro beijo da TV brasileira –, que cresceu. Aos 12 anos, para ajudar nas contas, entrou na Ford Models. Estampou capas de Capricho, Querida, fez comerciais e passou duas temporadas no Japão. Na volta da viagem, aos 15, cansou: “Me deu um fastio, achei tudo um saco”. Fator decisivo foi a aparição de manchas brancas no rosto por causa do vitiligo (doença de fundo emo cio nal que inibe a pigmentação da pele), atribuído à relação delicada com o pai. Hoje, aos 29, as manchas são imperceptíveis. “Assumi que não gosto de praia. Ia pra Ilhabela, enchia a cara de Hipoglós, enrolava um lenço na cabeça, parecia uma Madonna louca”, diverte-se.
A opção pelos palcos aconteceu quando a elegeram melhor cantora do Fico (Festival Interno do Colégio Objetivo), em 1997. Foram, então, anos de aulas de canto, mescladas com o curso de relações públicas na Faap, uma temporada em Nova York produzindo o BrasilFest (festival de música brasileira idealizado por Nelson Mot ta) e cantando em bares. “Essa época era sofrida, não sabia cantar, nada me satisfazia”, desabafa. Já no Brasil, reencontrou um caso antigo e, aos 21 anos, se casou – na igreja – com o músico Diogo Poças. Separaram-se em três anos, na época em que, com duas amigas, Tiê tocava o Café Brechó, um bar-loja em Perdizes.
Mas a cantora só foi se sentir cantora um ano atrás, quando, recuperada, caiu no Studio SP, casa de shows paulistana que vem se tornando uma vitrine de novos artistas. Tiê tinha um EP com quatro canções e nenhum direcionamento. “O show era um desastre. Cantava algumas músicas, dublava outras, trocava de roupa em cena, soltava perfume de alecrim, um circo”, lamenta. Um dos sócios da casa, Alê Youssef, alertou: “Você precisa ensaiar a banda, ter um bom produtor e, só depois disso, fazer o que quiser. Você é compositora, valoriza isso”. Tiê ouviu o conselho e, depois de três meses, entrou em estúdio e gravou Sweet Jardim, produzido por Plínio Profeta e patrocinado pelo Levis’ Music – projeto que apoia artistas estreantes. “O disco tem pequenos erros. Mas prefiro assim em vez de uma coisa plastificada.”
São Paulo, 4 de março de 2009. Passava das dez da noite e a casa estava lotada. Fila na porta. Apresentação de estreia de Sweet Jardim. Tiê não se abala com o zun-zunzum de quem estava ali só pela noitada. Era a primeira vez que subia no palco com repertório afinado e com a certeza de que tinha dado certo. No fim do show, sob aplausos – e depois do bis –, ela abandona os palcos. Para sempre voltar.
Gravado nos estúdios: MCR, RMS, BEBOP em São Paulo e NA GARAGEM no Rio de Janeiro.
Participações Especiais: Toquinho, Tatá Aeroplano, Gianni Dias, Tulipa Ruiz, Thiago Pethit e Naná Rizinni.
Direção Executiva: Ale Youssef
Direção/ Produção Musical: Plínio Profeta
Consultoria de estilo e capa: Rita Wainer
Assessoria de Imprensa: Fernanda Couto
Consultoria Juridica: Caio Mariano
Lançamento: Março de 2009
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Ótima entrevista:
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